PENSA QUE ACABOU?
 Educação
vista apenas como uma fase da vida que acabou com Ladislau Dowbor.
“É preciso dar ao aluno ferramentas
para que possa entender o que é relevante e o que não é.”
Gerir
o Conhecimento. É como o economista e professor da Pós-Graduação na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Ladislau Dowbor encara o desafio de
educar no século XXI. Do escritório da sua casa, em São Paulo, o autor de mais
de 40 obras sobre economia, gestão pública e educação falou ao Portal Aprendiz sobre como as inovações científicas e tecnológicas
estão transformando os processos de ensino-aprendizagem e obrigando indivíduos,
empresas e governos a adotarem novas medidas diante de um mundo regido pela
informação.
 “Quando falamos em educação a
gente pensa em professor, sala de aula e alunos. Eu passei a trabalhar com o
conceito de Gestão do Conhecimento, algo muito mais amplo e que envolve
deslocamentos profundos. A educação vista apenas como uma fase da vida acabou.
Isso envolve cada vez mais gente, então temos que pensar o acesso e a interação
com o conhecimento durante todas as fases da vida.”
Para compreender a Gestão do
Conhecimento, segundo Dowbor, é preciso considerar três elementos. O primeiro é
o fato de o conhecimento ter se tornado o principal fator de produção em todas
as atividades econômicas. Já o segundo, encontra nas tecnologias de comunicação
e informação (TICs) peças fundamentais para o acesso e troca de conhecimento
produzido no planeta. E o terceiro vê na emergência do princípio da colaboração
uma mudança de paradigma nas relações entre aqueles que produzem conhecimento.
“Se eu te dou meu relógio eu fico sem
ele. Se te passo conhecimento, ficamos ambos com ele. O uso não reduz o
estoque, o que muda radicalmente todos os processos econômicos, porque rende
muito mais colaborar do que se esconder atrás de royalties, patentes,
copyrights e coisas do gênero. Isso gera potencial para evoluirmos da guerra
econômica, da desigualdade, da hierarquização para uma democratização geral”,
afirma ele.
Essa nova lógica tende a mudar
radicalmente o papel do professor. De acordo com Dowbor, não faz mais sentido
pensar a transmissão de conhecimento da cabeça do educador ou da apostila, do
livro, para a cabeça do estudante. “É preciso dar ao aluno ferramentas para que
possa entender o que é relevante e o que não é, para que aprenda a organizar
sua memória cientifica.” Nessa perspectiva, acrescenta o economista, o
professor se converte em um articulador de potenciais.
A Escola
Ora, se o conhecimento está em todas as
partes, qual será a função das escolas no futuro? A resposta parece simples,
mas o número de experiências pelo mundo que já conseguiram ressignificar o
espaço escolar denuncia o tamanho do desafio. Para Dowbor, a saída é cada vez
mais a escola assumir o papel de articuladora do conhecimento e formuladora de
perguntas.
 “A grande questão é como formular
a pergunta certa. Quais conhecimentos eu preciso ter para responder essa
pergunta? Precisamos decorar menos fórmulas. Por isso acredito que no futuro
vai aflorar com muita força tudo que for ligado a metodologias.”
Em instituições onde isso já acontece –
ele cita a Escola da Ponte como exemplo – os problemas são escolhidos pelos
alunos e em função do interesse deles. “Isso faz uma ponte essencial entre o
conhecimento e a informação. Quando o aluno está interessado em algo e você dá
instrumentos para que ele pesquise, quando se trabalha por problemas e não por
matérias, em tempo corrido e não em fatias de cinquenta minutos, quando o
professor ajuda nas metodologias e não ensina a resposta, temos então outro
conceito de sala de aula. É como Montaigne escreveu no século 16: “precisamos
de cabeças bem feitas, não bem cheias.”
Os professores e a escola, segundo ele,
precisam rever suas funções. “Ainda estamos na pré-história, enfrentando a
liquidação do lúdico e do artístico, da criatividade da criança e de sua
vontade de conhecer. Quando você senta o menino por 40 horas semanais, você
resolve o problema dos pais, não dele. Alguém que não gosta de uma matéria pode
decorar e passar na prova, mas não irá guardar. Os bancos se adaptaram
rapidamente ao mundo moderno, porque dá lucro. Mas a educação está no pelotão
de trás”, afirma.
Para ele, há uma grita social muito
forte sempre que há contratações de professores, de inchamento da máquina
pública, mas a educação seria o melhor investimento, considera. “O papel do
professor mudou mas ele ainda é extremamente necessário. Na Finlândia, são seis
alunos para cada docente. E investir na educação pública é o melhor
investimento que você pode fazer”.
Educação e Desenvolvimento
As
conclusões de Dowbor vão ao encontro das resoluções da ONU, apresentadas no relatório “Ensinar e aprender: alcançar qualidade para todos”, divulgado no final de janeiro. O documento, que acompanha
as metas para a educação mundial, a serem alcançadas até 2015, ressalta que “a
educação reduz a pobreza, aumenta as oportunidades de trabalho e impulsiona a
prosperidade econômica”. Além disso, completa o texto, “ela também melhora a
probabilidade de as pessoas terem uma vida saudável, aprofunda as bases da
democracia e transforma atitudes para proteger o meio ambiente e empoderar as
mulheres”.
Nesse sentido, Dowbor reforça a
importância de que a educação não seja vista pelos governantes apenas como um
“trampolim” para conseguir um emprego ou elevar salários. “É preciso dar um
norte para a educação que vá além da empregabilidade”, ressalta. Por isso, o
professor propõe uma reflexão sobre o conceito de desenvolvimento, palavra tão
alardeada como solução para os problemas do mundo.
“Ainda estamos na pré-história, enfrentando a liquidação do lúdico e do
artístico, da criatividade da criança e de sua vontade de conhecer.”
Em sua opinião, é preciso deixar de
lado o Produto Interno Bruto (PIB) e adotar indicadores que deem conta da
qualidade de vida e do avanço de direitos e garantias sociais. “Estamos
chegando no limite. Temos sete bilhões de pessoas, com 80 milhões a mais por
ano, a TV empurra produtos, um consumismo surrealista que liquida a conectividade
das pessoas, que substitui a família por encontro com mercadorias, gerando uma
crise social agravada pela desigualdade.”
Em lugar de alimentar essa realidade,
Dowbor acredita que devemos nos perguntar: “Estamos vivendo melhor? Se sim, não
precisa aumentar o PIB. Se você consegue viver de maneira melhor e honesta,
acho que é o caminho”, finaliza.
Referência:  http://portal.aprendiz.uol.com.br/2014/02/21/ladislau-dowbor-educacao-vista-apenas-como-uma-fase-da-vida-acabou/ acesso 27/0515 ás 13:51  21/02/2014 CONHECIMENTO - INOVAÇÃO
Da Redação Por Pedro Ribeiro Nogueira e Raiana Ribeiro
Da Redação Por Pedro Ribeiro Nogueira e Raiana Ribeiro

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